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Vida feliz

CULTO ENGESSADO!

Quando a tradição atrapalha o culto

Por Deivinson 02/08/2022 às 14:06:33
Foto de Luis Quintero: https://www.pexels.com/pt-br/foto/fotografia-em-tons-de-cinza-de-pessoas-adorando-2774570/

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"E ele, respondendo, disse-lhes: Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim; em vão, porém, me honram, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens" (Mc 7.6,7).

Quando tradições humanas contradizem a Bíblia, o que devemos fazer? O que gera divisões no seio da igreja?

Perguntas inquietantes, não? Sentimos vertigem só em pensar. E se o seu coração já perdeu o ritmo ao ver a carranca do tradicionalismo abocanhar a sua fé, destroçando o seu culto pessoal, você precisa ler Marcos 7.1-30.

Jesus ensinou os discípulos a tomarem cuidado a fim de não se contaminarem com as tradições humanas. A atitude de Jesus foi motivada por uma questão feita pelos escribas e fariseus. Esses religiosos guardavam a tradição dos anciãos, que era a de lavarem as mãos antes das refeições (Mc 7.1-5). Alguns discípulos do Mestre não respeitaram essa tradição. Os escribas e fariseus, ávidos por uma falta, perguntaram a Jesus por que aqueles discípulos não faziam a tradicional ablução. Esta pergunta não foi feita por causa da preocupação com a boa higiene. Ela foi feita com um propósito maligno: engessar o culto vivo e espontâneo de pessoas simples.

TRADICIONALISMO MATA

Imagine um lugar onde atitudes, as mais simples, são cerceadas. Onde, se fosse possível, nem pensar se poderia. Um meio que inibe e desespera. Nem é preciso muita criatividade para conceber semelhante ambiente. Ele já existe, infelizmente. É o reino do engessamento religioso, onde o tradicionalismo se manifesta. Mas, antes de tratar da corte e rudimentos desse reino, quero voltar à provocação dos escribas e fariseus a Jesus. O ritual do lava-mãos é conhecido em hebraico por n"tilat-yadayim e é praticado até hoje. Ele era feito para a purificação espiritual dos judeus ortodoxos diante de um mundo considerado imundo. Os escribas e fariseus viam a imundície espiritual encarnada nos gentios, por isso sentiam a necessidade de purificação diariamente. Eles acreditavam que, se comessem com as mãos ritualmente sujas, trariam a imundície gentia para a própria vida espiritual. O ritual do n"tilat-yadayim era metódico, pois o religioso deveria "lavar cuidadosamente as mãos" (Mc 7.3). O método consistia em lavar-se com água corrente fluindo entre os dedos, passando pela palma até o pulso. Era uma técnica tradicional e, por isso, muito usada pelos judeus ortodoxos.

A tradição dos anciãos, motivo da intriga dos religiosos com Jesus, era a interpretação oral e expositiva da Lei de Moisés – conhecida em hebraico como Torah. Na Tradição Oral, os sábios e rabinos haviam decretado inúmeras regras adicionais à Lei mosaica. A Mishnah (em hebraico, "repetição", do verbo shanah, "estudar e revisar") é uma das principais obras do judaísmo rabínico, e a primeira grande redação da Tradição Oral judaica, chamada a Torah Oral. Provém de um debate entre os anos 70 e 200 d.C. surgido em um grupo de sábios rabínicos conhecidos como Tanaim. Por causa da perseguição romana e da passagem do tempo, a Mishnah só foi completamente redigida por volta do ano 200 d.C. pelo Rabino Judá HaNasi. Dessa forma, os detalhes das tradições orais não seriam esquecidos. A Mishnah é considerada a primeira obra importante do judaísmo rabínico.

Apesar do que disse sobre a atitude dos escribas e fariseus, Jesus Cristo NÃO era contrário às tradições! Na verdade, Jesus seguiu e manteve várias tradições judaicas. Por exemplo, nas bodas em Caná, Jesus atendeu à tradição de que o vinho é a alegria do casamento, transformando tonéis de água na preciosa bebida. Ele também observou cada detalhe das festas judaicas, especialmente a páscoa. O Senhor, inclusive, aproveitou os símbolos pascais para dar a eles uma nova interpretação no momento da última ceia. Portanto, Jesus não era contrário a toda tradição. Ele conhecia bem o texto de Provérbios: "Não removas os marcos antigos que teus pais fizeram" (Pv 22.28).

O Senhor não era contrário a todas as tradições humanas, mas sim àquelas tradições que os homens criavam para invalidar a Palavra de Deus! Observe os versículos 8, 9 e 13. A ênfase recai na expressão "suas tradições".

Então, como o Senhor Jesus se posicionou diante dos excessos dos engessadores de culto? Ele citou o Antigo Testamento em Sua resposta (Mc 7.6-13), aplicou as palavras de Isaías 29.13 aos judeus de Sua época (Mc 7.6,7) e citou passagens da Lei de Moisés, em que se ordenava honrar pai e mãe (Êx 20.12; 21.17; Lv 20.9; Dt 5.16). Mostrou dessa maneira que as tradições destes líderes contradiziam os princípios da Lei de Deus (Mc 7.9-13). Jesus Cristo denunciou que a boa tradição do Korban – palavra dada aos diversos tipos de sacrifícios e ofertas dentro do sistema religioso judaico – estava sendo usada pelos escribas e fariseus como pretexto para invalidar o quinto mandamento. Era a pura ganância que motivava os engessadores do culto a interpretarem que a tradição do Korban era válida, ainda que o ofertante estivesse desobedecendo a Lei de Moisés. Jesus os corrigiu, estabelecendo as verdadeiras prioridades.

O Senhor expôs também a questão sobre a observância das tradições à multidão que o seguia, e depois aos discípulos em particular. Disse-lhes que a contaminação não vem de fora (dos alimentos), mas do coração impuro (Mc 7.14-23). Jesus sabia que é do coração que procedem as impurezas, pois ele é enganoso (Jr 17.9). O tradicionalismo engessa a alma e infecta o ser humano, que a partir da contaminação passa a se achar superior aos outros, excluindo-os do "rol dos santos".

Para contrapor essa triste realidade do coração engessado, Jesus fez um teste surpreendente. Na terra de Tiro, uma mulher grega de grande fé pediu a Ele que expulsasse o demônio de sua filha (Mc 7.24-30). Por que Jesus não expulsou o demônio da menina sírio-fenícia no exato momento em que a mãe dela fez o pedido? Ele queria testá-la. Mostrou-lhe que Sua missão destinava-se primeiro aos judeus, mas que Ele também a ajudaria. A mulher era gentia, mas manifestou a fé de Abraão, virtude que poucos judeus à época cultivavam. Ao contrário da postura exclusivista e preconceituosa dos engessadores de culto, o nosso amado Jesus tinha o Seu coração repleto de amor e compaixão pelas almas perdidas do mundo inteiro.

Como vai o seu coração, querido irmão? Ele está cheio de gesso? Quebre agora mesmo as amarras que ainda prendem a sua vida espiritual e renda-se a Deus num culto vivo e espontâneo.

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FALE, LEITOR

Olá! A paz de Cristo!

Quero fazer um breve comentário sobre a matéria "Culto Engessado".

Gostaria de parabenizar o autor, o pastor Deivinson Bignon, por este artigo, pois tem tudo a ver com os dias atuais. Gostei tanto que acho relevante acrescentar dois comentários.

O primeiro. Vivemos numa era em que participamos constantemente de cultos engessados. Aliás, de cultos frios, hipócritas, sem a presença de Deus, sem unção etc. Claro, existem exceções, mas são poucas. Também sou alvo desse marasmo espiritual na igreja na qual faço parte.

Os pastores cada vez mais se parecem com os fariseus do texto de Marcos 7. Jesus disse em Mateus 23, a partir do versículo 3: "Observai, pois, e praticais tudo o que vos disserem; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não praticam". O que Jesus quis dizer com isto? Que os próprios mestres da lei não faziam aquilo que eles mesmos ensinavam ao povo. Criaram inúmeras leis e tradições, como a comentada pelo autor sobre o lavar das mãos.

Regras semelhantes são cultivadas nos nossos dias. Aliás, com muita frequência. Indício de que o fim está mesmo próximo. E como isto tem desmotivado as pessoas. Eu, particularmente, não consigo mais ficar nestes cultos, nessas reuniões – melhor dizendo, nem tenho conseguido adorar no templo. Está muito difícil. Mas, a Bíblia disse que seria assim: "Vocês serão expulsos das sinagogas, por causa do meu nome", disse Jesus. Ele fez referência à perseguição. Porque o importante para o fariseu é a aparência.

O segundo comentário refere-se ao sexto parágrafo do artigo, onde se lê: "Apesar do que disse sobre a atitude dos escribas e fariseus, Jesus Cristo NÃO era contrário às tradições!". Claro que Jesus não era contrário às tradições e às leis. Como seria contrário? Jesus veio cumprir a Lei. Toda a Lei e os profetas foram cumpridos em Jesus. Mas, quando Jesus não foi contrário a isto? Em que tempo? Foi quando Ele ainda estava vivo. A partir de Sua morte e ressurreição, foi firmada a Nova Aliança, o véu do templo se rasgou, quando Ele disse: "Está consumado!".

Jesus, quando estava na Terra, participava das tradições judaicas: ia às festas, pagava tributos, ia ao Templo, etc. É por isso que hoje estamos livres. Livres da Lei, das tradições.

Em Mateus 23.23 Jesus disse:

"Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dais os dízimos da hortelã, do endro e do cominho e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer essas coisas e não omitir aquelas".

Muitos pregadores utilizam este versículo para dizer que Jesus apoiava a exploração financeira no Novo Testamento, mas a ênfase de Mateus 23 não é essa. O título do texto diz: "Jesus censura os escribas e os fariseus". Jesus não era contra o dízimo (umas das tradições judaicas). Contudo, Ele mesmo disse que o mais importante é o juízo, a misericórdia e a fé. E os próprios fariseus que batiam no peito dizendo que eram dizimistas, erravam em não providenciar assistência aos pobres, às viúvas e aos estrangeiros.

E isso tem acontecido nos dias de hoje. Diversos "líderes" exploram os pobres e as viúvas, pois querem encher os próprios bolsos. Contudo, não querem cuidar das ovelhas. Aliás, a principal função de um pastor é cuidar das ovelhas. O que temos hoje em dia são pessoas muito "inteligentes", doutores, mestres, mas na hora de se envolver com as coisas do Reino, não o fazem. Hipócritas!

Vivamos na Palavra. Vivamos Gálatas 2.18-20:

"Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor. Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver em Deus. Já estou crucificado em Cristo; e agora vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim".

Paremos de ser hipócritas! Vivamos a novidade de vida! Vamos nos entregar inteiramente a Deus: nossas famílias, nosso ser, nossas finanças etc. Tudo é do Senhor. Porque dele e por Ele e para Ele são todas as coisas, glória, pois, a Ele eternamente, amém!

Apocalipse 3.20: "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo".

Não deixemos Jesus do lado de fora!

DMC (por e-mail).

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DEIVINSON BIGNON é Pastor Congregacional, mestre em Ciências da Religião, teólogo, professor de Hebraico Bíblico e Exegese Bíblica, escritor, integrou a equipe de revisores da Bíblia de Estudo Mathew Henry e é publisher da Editora Contextualizar, com vasta experiência em publicação para autores evangélicos iniciantes.

TODOS OS SEGREDOS DO SALMO 23 REVELADOS DIRETO DA BÍBLIA HEBRAICA

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