19/04/2024 (21) 979164559

Geral

Conselho federal investiga enfermeira que ameaçou vazar dados de paciente vítima de estupro

Ação veio depois de denúncia pública feita pela vítima, que engravidou após abuso sexual e encaminhou bebê para adoção

Por Wanessa Dias 28/06/2022 às 05:24:46

Foto: Agência Brasil

O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) está investigando a conduta da enfermeira que ameaçou vazar dados pessoais de uma paciente que encaminhou um bebê para adoção. A gravidez foi resultado de estupro.

O caso, que estourou na imprensa no último final de semana, ocorreu no estado de São Paulo e envolve uma atriz que foi indevidamente exposta por profissionais do hospital onde se deu o parto.

A artista, que depois acabou se identificando por iniciativa própria nas redes sociais para fazer um desabafo sobre a exposição de que foi vítima, disse ter sido indevidamente abordada pela enfermeira em questão logo após o nascimento do bebê.

Ela conta que, na ocasião, quando ainda estava anestesiada, a profissional ameaçou-a dizendo "imagina se tal colunista descobre essa história."

O Cofen abriu investigação para apurar a conduta da enfermeira e aponta que a eventual confirmação de infrações éticas pode resultar em cassação do direito ao exercício profissional, conforme definido pela legislação que orienta a prática da categoria. Entre elas está a Resolução 564/2017, da entidade, baseada na Lei nº 5905/1973.

"Caso se comprove que houve de fato exposição indevida de dados, essa profissional estará infringindo o código de ética", afirma o 2º tesoureiro do Cofen, Daniel Menezes. Segundo ele, o processo de averiguação se dará em diferentes etapas.

A primeira delas conta com atuação do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP), que tem jurisdição local para atuar no caso e auxilia o Cofen fazendo uma apuração preliminar da denúncia. Havendo comprovação de indícios, analisa-se a admissibilidade para o processo ético.

Segundo Menezes, o processo todo dura no mínimo seis meses e deve levantar provas testemunhais, provas documentais, bem como garantir a ampla defesa e o contraditório à pessoa denunciada. Ao final, havendo comprovação da conduta irregular por parte da enfermeira, a profissional fica sujeita às punições previstas na legislação vigente.

"As penalidades são estabelecidas por lei e vão da mais branda, que é uma advertência, até outras mais graves, que são multa, censura, suspensão do exercício profissional por um período e até a cassação do direito do exercício profissional", explica Menezes.

O tesoureiro do Cofen destaca que a situação relatada pela atriz difere do que se espera de um profissional de saúde nesse tipo de contexto.

"Os princípios fundamentais da nossa profissão, por exemplo, são de que a enfermagem é comprometida com a vida, com a saúde e a coletividade. Então, num caso de violência como essa, o profissional tem que atender com o máximo de discrição possível e sem gerar mais transtornos e mais violência, o que, no caso que está sendo denunciado, pode ter ocorrido. A gente lamenta por profissionais que não sejam aderentes a essa conduta.

Contexto

A vítima do caso em questão teve informações pessoais vazadas para o colunista Leo Dias, do portal Metrópoles, que explorou o caso, expondo publicamente a imagem da atriz. Ele divulgou dados sobre o nascimento do bebê e rompeu as barreiras legais que protegem a identidade de mulheres e crianças nesse tipo de situação.

A entrega de filhos para adoção voluntária, por exemplo, é prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). As mulheres vítimas de estupro que adotam essa iniciativa ou optam pelo aborto legal têm direito à privacidade dos dados pessoais, conforme disposto na legislação brasileira.

Além da exposição por parte do colunista, a artista chegou a ser duramente criticada por internautas com discursos condenatórios. Dias depois da primeira exposição, ela decidiu se pronunciar publicamente, no último final de semana, quando pediu respeito à própria privacidade, lamentou a campanha difamatória que sofreu por parte de vozes mais conservadoras e expôs alguns detalhes do caso.

Entre outras coisas, a artista contou que também sofreu indelicadezas por parte do médico que cuidou do caso. O profissional, segundo ela, não teria tido "nenhuma empatia" e ainda teria obrigado a vítima de estupro a ouvir o coração da criança. "E disse que 50% do DNA eram meus e seria obrigada a amá-lo", acrescentou a atriz, no relato público.

O Brasil de Fato procurou também o Conselho Federal de Medicina (CFM) para checar se foi aberta alguma investigação sobre a conduta do médico e apurar detalhes sobre os trâmites adotados nesse tipo de situação, mas não houve retorno da assessoria de imprensa do órgão até o fechamento desta matéria.

Quer receber nossas principais notícias pelo WhatsApp? Se sim, CLIQUE AQUI e participe do nosso grupo. Lembrando que apenas administradores podem enviar mensagens.

Leia também o São Gonçalo RJ através do Google Notícias.

Curta nossa página no Facebook é só clicar no botão


Fonte: Brasil de Fato

Comunicar erro
Comentários