O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou nesta quarta-feira que o combate à fome é uma escolha política dos governantes. "A fome não resulta apenas de fatores externos, ela decorre, sobretudo, de escolhas políticas. Hoje o mundo produz alimentos mais do que suficientes para erradicá-la. O que falta é criar condições de acesso aos alimentos", afirmou Lula durante o evento de pré-lançamento da força-tarefa para a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, no Rio de Janeiro. Receba notícias do São Gonçalo RJ no seu Whatsapp e fique por dentro de tudo! Basta acessar o grupo: Clique aqui!
Em seu discurso, Lula criticou o aumento dos gastos com armamentos, que subiram 7% no último ano, chegando a US$ 2,4 trilhões. "Inverter essa lógica é um imperativo moral, de justiça social, mas também essencial para o desenvolvimento sustentável", acrescentou o presidente. A nova aliança, proposta pelo Brasil no G20, estabelece um compromisso internacional para obter apoio político, recursos financeiros e conhecimento técnico na implementação de políticas públicas e tecnologias sociais eficazes para a erradicação da fome e da pobreza no mundo.
Entre as iniciativas destacadas estão programas de transferência de renda, alimentação escolar, cadastro de famílias vulneráveis, apoio à primeira infância, agricultura familiar, assistência social, protagonismo das mulheres e inclusão socioeconômica e produtiva. "A fome não é uma coisa natural, a fome é uma coisa que exige decisão política", reforçou Lula.
Lula enfatizou a urgência de promover a cidadania através da articulação de todos os atores relevantes, compartilhando políticas públicas efetivas e permitindo adaptações regionais. "Vamos sistematizar e oferecer um conjunto de projetos que possam ser adaptados às realidades específicas de cada região. Toda adaptação e implementação deverá ser liderada pelos países receptores, porque cada um conhece seus problemas. Eles devem ser os protagonistas de seu sucesso", afirmou.
A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza será gerida com base em um secretariado nas sedes da FAO em Roma e em Brasília, e funcionará até 2030, com metade dos custos cobertos pelo Brasil. Lula agradeceu aos países que já se comprometeram a contribuir com o esforço, destacando que os recursos globais e regionais existentes serão redirecionados para as políticas de Estado de cada país.
O Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Banco Africano de Desenvolvimento declararam apoio à aliança, colocando a segurança alimentar em suas agendas estratégicas e estabelecendo novos mecanismos financeiros. A Associação Internacional para o Desenvolvimento também fará nova recomposição de capital para ajudar os países mais pobres.
Lula destacou a necessidade de reforma das instituições de governança global, incluindo as financeiras, como o FMI e o Banco Mundial, para enfrentar problemas complexos como a fome e a pobreza. "A representação distorcida na direção do FMI e do Banco Mundial é um obstáculo ao enfrentamento dos complexos problemas da atualidade. Sem uma governança mais efetiva e justa, na qual o Sul Global esteja adequadamente representado, problemas como a fome e a pobreza serão recorrentes", disse.
A taxação dos super-ricos é outra agenda proposta pelo Brasil, visando corrigir a desigualdade tributária global. "A riqueza dos bilionários passou de 4% do PIB mundial para quase 14% nas últimas três décadas. Alguns indivíduos controlam mais recursos do que países inteiros", observou Lula. Ele defendeu a cooperação internacional para desenvolver padrões mínimos de tributação global, incluindo os bilionários.
Precedendo a reunião ministerial, a FAO lançou seu Mapa da Fome, revelando que uma em cada 11 pessoas pode ter passado fome no mundo em 2023. Em 2022, 28,9% da população mundial (ou 2,33 bilhões de pessoas) estava em moderada ou grave insegurança alimentar. Lula chamou os dados de "estarrecedores", destacando que a fome é a "mais degradante das privações humanas" e que o problema é especialmente grave na África e na Ásia, mas também persiste em partes da América Latina e países ricos.
"A fome tem o rosto de uma mulher e a voz de uma criança. Mesmo que elas preparem a maioria das refeições e cultivem boa parte dos alimentos, mulheres e meninas são a maioria das pessoas em situação de fome no mundo. Muitas mulheres são chefes de família, mas ganham menos. Trabalham mais no setor informal, se dedicam mais aos cuidados não remunerados e têm menos acesso à terra que os homens. A discriminação étnica, racial e geográfica também amplifica a fome e a pobreza entre populações afrodescendentes, indígenas e comunidades tradicionais", afirmou Lula.
No Brasil, ainda há 2,5 milhões de pessoas em insegurança alimentar severa. Em 2014, o país havia saído do Mapa da Fome, mas a insegurança alimentar aumentou ao longo dos anos, e o Brasil voltou a constar no relatório em 2021. Lula reafirmou o compromisso de seu governo de acabar com a fome no Brasil, como feito em 2014.
A presidência brasileira no G20, grupo composto por 19 países e dois órgãos regionais (União Africana e União Europeia), representa cerca de 85% do PIB mundial e mais de 75% do comércio mundial, abrangendo cerca de dois terços da população do planeta. O lançamento oficial da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza será formalizado na Cúpula de Líderes do G20, em novembro, no Rio de Janeiro.
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