Novo relatório divulgado hoje (6) pela Rede de Observatórios de Segurança aponta que as forças policiais do Rio de Janeiro foram responsĂĄveis por 306 mortes entre agosto de 2021 e julho de 2022. O nĂșmero é superior aos 281 óbitos registrados conjuntamente em outros seis estados analisados.
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O relatório traz os resultados de um estudo feito pelo terceiro ano consecutivo com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre a violĂȘncia e a segurança pĂșblica. Foram compilados dados da Bahia, CearĂĄ, Maranhão, Pernambuco, PiauĂ e São Paulo, além do Rio de Janeiro.
"Os nĂșmeros demonstram que o confronto como polĂtica de segurança pĂșblica é um modelo falido. A principal justificativa dessas ações é a guerra às drogas, que só afeta pessoas negras e pobres e nem mesmo resulta em apreensões de entorpecentes ou desarticulação do crime", afirma a Rede de Observatórios de Segurança.
Em nota, a PolĂcia Militar do Rio de Janeiro (PMRJ) informou que tem apresentado os melhores Ăndices de segurança pĂșblica em trĂȘs décadas, conforme dados do Instituto de Segurança PĂșblica (ISP), autarquia vinculada ao governo estadual. Também apresentou um comparativo entre os perĂodos de janeiro a agosto de 2022 e 2021.
"Os nĂșmeros revelam uma redução de 11% no Ăndice de letalidade violenta, 7% nas lesões corporais seguidas de morte e de 11% nos roubos seguidos de morte, os menores indicativos dos Ășltimos 31 anos. Vale destacar que, somente neste ano de 2022, a PMRJ prendeu mais de 24,2 mil criminosos, apreendeu mais de 2,8 mil adolescentes envolvidos com a criminalidade, e retirou das ruas mais de 4,8 mil armas de fogo, entre as quais 275 fuzis idĂȘnticos aos utilizados em guerras convencionais", diz o texto.
Também com base em dados do ISP, a PolĂcia Civil afirmou que o nĂșmero de mortes por intervenção de agentes do Estado estĂĄ no menor patamar desde 2017 e sustentou que as operações são realizadas com base no tripé inteligĂȘncia, investigação e ação. "Os confrontos só existem quando os agentes tĂȘm de reagir a ação de criminosos", alega.
A Rede de Observatórios de Segurança é um projeto impulsionado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) da Universidade Candido Mendes, no Rio de Janeiro. Os estudos contam com apoio da Fundação Ford. As duas primeiras edições deste relatório reuniram dados de cinco estados. A partir desta edição, Maranhão e PiauĂ também passam a fazer parte do estudo, tendo em vista a integração de grupos de pesquisa das universidades federais do Maranhão (UFMA) e do PiauĂ (UFPI). Entre outros participantes que jĂĄ compunham a rede, hĂĄ cientistas da Universidade Federal do CearĂĄ (UFC) e da Universidade de São Paulo (USP).
Ao todo, o estudo divulgado hoje avaliou 16 indicadores. Os resultados mostram que pessoas negras são as principais vĂtimas da violĂȘncia, razão pela qual o relatório foi batizado de MĂĄquina de Moer Gente Preta: A Responsabilidade da Branquitude.
"Uma barreira fĂsica, real e concreta permite a divisão da sociedade em pessoas que podem todas as coisas – com proteção da justiça e silĂȘncio da mĂdia para os crimes mais abjetos, inclusive contra a vida –, e todas as demais, que estão sempre a um passo do cĂĄrcere, por caminhar à noite nas ruas do seu bairro, ou da cova, porque uma bĂblia ou um guarda-chuva são 'muito parecidos' com um fuzil", registra o artigo de abertura do relatório escrito pelo historiador Dudu Ribeiro, coordenador do Observatório da Segurança na Bahia.
Esse estudo é resultado de um monitoramento diĂĄrio a partir de veĂculos de imprensa: os pesquisadores coletam informações e alimentam um banco de dados que posteriormente é revisado e consolidado. Entre agosto de 2021 e julho de 2022, foram contabilizados 21.563 eventos violentos nos sete estados, o que significa 59 por dia.
As ações policiais representam mais da metade desses registros. Particularmente no Rio de Janeiro, eles respondem por 67% dos eventos, superando a média nacional de 55%. Em nĂșmeros absolutos, no entanto, São Paulo é o estado que apresenta o maior nĂșmero de eventos violentos envolvendo a polĂcia: foram 3.622 registros.
O relatório destaca ainda que a Bahia registrou um aumento de 47% no Ăndice de violĂȘncia contra a mulher, que Pernambuco é o estado onde mais mulheres trans foram mortas, que Maranhão e PiauĂ tĂȘm os maiores Ăndices de violĂȘncia sexual contra crianças considerando os estados do Nordeste e que São Paulo contabilizou uma alta de 15% na violĂȘncia contra crianças e adolescentes.
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Fonte: AgĂȘncia Brasil