08/05/2024 (21) 979164559

Vida feliz

A ÚLTIMA PREGAÇÃO

Um conto de fé em Deus!

Por Deivinson 11/07/2022 às 12:21:43
https://www.pexels.com/pt-br/foto/close-up-de-papel-contra-fundo-preto-250609/

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"... porque o homem se vai à sua casa eterna, e os pranteadores andarão rodeando pela praça; antes que se rompa o cordão de prata, e se quebre o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à fonte, e se quebre a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu" (Eclesiastes 12.5b-7).

Esta é uma história de ficção, mas baseada em fatos reais. Nela será narrado um fato semelhante a dois outros que presenciei como ministro do evangelho. Boa leitura!

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- Jesus está chamando vocês ao arrependimento! Quem, nesta noite, aceitará o maior desafio de sua vida? Quem terá a coragem de entregar seu coração ao Senhor, tornando-se assim uma nova criatura?

A palavra de Deus reverberava no íntimo dos ouvintes. Era Hermeneuo na sua voz articulada numa dicção impecável, apesar de seus 71 anos. Ao longo de meio século de experiência ministerial, o velho pastor já havia ganhado cerca de 700 almas para Jesus. E durante o sermão daquela noite, tudo indicava que esse número aumentaria.

Era um culto especial. Aniversário da igreja e Ceia do Senhor. Com o breve silêncio do pregador, podiam-se ouvir apenas respirações afetadas pela emoção. Então, dez pessoas levantaram as mãos, indicando que entregavam suas vidas a Jesus naquele momento. Foi uma festa! A igreja veio abaixo em brados de Aleluias e Glórias a Deus. Sim, dez almas foram conduzidas ao altar pelos obreiros atentos, que vibravam em silêncio, contendo a emoção por aquela colheita abundante.

Hermeneuo passou o microfone ao novo pastor titular, a quem há sete anos havia entregado o cajado do ministério. O ancião estava satisfeito. Um longo período de mentoria bem-sucedida. Apolo, o novo pastor, também era poderoso na Palavra, mas a igreja ainda sentia prazer em ver o seu velho pastor no púlpito, arrancando almas das garras do inferno.

Mas também era verdade que Hermeneuo estava muito doente. Há um ano ele descobriu que havia contraído câncer nos rins e lutava contra a doença. O tratamento era intensivo. O septuagenário pregador já mostrava sinais de cansaço, apesar da mente lúcida. Seu apoio de toda vida era a esposa, a irmã Miriã. Também incansável no ministério, a anciã cuidava do marido naqueles dias penosos. Nem se passava pela mente de Miriã o que iria acontecer mais tarde.

O pastor Apolo anunciou um número musical antes de iniciar a cerimônia da Ceia do Senhor. Uma irmã jovem e muito bonita recebeu o microfone e iniciou o solo. No auge dos agudos da soprano, o pastor Hermeneuo sentou-se. Contemplava diante de si a mesa com a Ceia preparada. Aos olhos da igreja, o ancião sentara-se para descansar. Mas Hermeneuo sentia-se mal. Foi quando, ao fitar os matizes carmesins do cacho de uvas à mesa, a vida passou-lhe como um relâmpago em sua mente.

O velho pastor lembrou-se da infância pobre no interior de Capitão Poço, estado do Pará; da juventude passada no Rio de Janeiro; de seu chamado ao ministério pastoral com apenas 15 anos de idade; do primeiro beijo em Miriã, a jovem loira e tímida por quem se apaixonara muito cedo na igreja dos pais, no Rio. Lembrou-se ainda dos anos de estudos no seminário teológico, sua ordenação ao ministério e o modo como suava em bicas durante o sermão de prova, diante de tantos pastores e mestres. Enfim, um filme se desenrolava na mente de Hermeneuo. Até que a fita parou naquele momento do culto, em que o velho pastor respirava agora com dificuldade.

O pastor Apolo estava de olhos fechados, navegando nas ondas musicais. Hermeneuo afundava na cadeira confortável, remexendo o velho quadril em busca de uma posição que lhe facilitasse a respiração. Mas não a achava. O desespero já tomava conta da alma, mas seu autocontrole era admirável, pois o semblante não demonstrava sua intensa agonia.

O solo terminou. A igreja glorificava a Deus. Os novos convertidos já haviam sido conduzidos ao gabinete pastoral, onde seriam orientados pelo pastor. O culto se aproximava do fim. A irmã Miriã fez a sua oração. Quando abriu os olhos, percebeu que algo estava errado. Fitou o seu velhinho e o viu em agonia, tentando controlar seu mal-estar. Rápida, a anciã correu ao púlpito, subindo os três degraus que davam acesso ao altar. Chegou a tempo de ver os olhos de seu marido contemplando o teto e balbuciando só para ela:

– Veja... Miriã... anjos... são lindos!

Miriã não viu anjo algum. A igreja inteira estava em silêncio. Apolo percebeu o que acontecia, e já estava requisitando os oficiais eclesiásticos para que chamassem uma ambulância. O velho pastor precisava ser socorrido.

Respirando ainda com dificuldade, Hermeneuo ficou em silêncio. Mas seus olhos não traduziam desespero, refletiam sua paz interior, uma serenidade sem igual. De súbito, o velho pregador conseguiu sorver uma grande golfada de ar. Depois, sorrindo para sua amada esposa, expirou todo o conteúdo de seus cansados pulmões. Entregou o espírito a Deus.

Os olhos marejados de Miriã refletiam as lâmpadas incandescentes que despejavam intensa luz azulada sobre o arranjo ao lado do púlpito. Ainda assim, ela pôde ver, numa fração de segundos, um filete prateado, etéreo, desprender-se sutilmente da boca de seu marido e ir serpenteando até o teto da igreja, dissolvendo-se ao tocar a abóbada. Nesse instante, Miriã sentiu como se o chão ruísse sob seus pés.

A igreja em suspense. O pastor Apolo explicou o que estava acontecendo e os irmãos foram tomados de intensa emoção. Alguns choravam alto, outros sussurravam para seus vizinhos perguntando sobre a natureza daquele estranho momento. E como resposta, a Igreja começou a cantar o trecho de um hino que o velho pastor gostava: "Manso e suave, Jesus convidando...". Miriã chorava baixinho, resignada, quando os paramédicos chegaram providenciando a remoção do pastor Hermeneuo. O fiel servo do Senhor jazia inerte na maca. Mas, de uma coisa Miriã sabia: seu amado esposo havia partido para a maior aventura de sua vida, atendendo desta vez ao último chamado de seu Senhor.

Surpreendentemente, os fiéis não se dispersaram. O pastor Apolo conduziu o restante do culto com a igreja em total sintonia espiritual. Todos estavam em ardorosa adoração e confissão espontânea de pecados. Os oficiais que permaneceram no templo, agora concentrados, retomaram suas funções, posicionando-se ao lado do pastor Apolo. A ceia foi servida aos irmãos.

Nunca houve um culto como aquele. No momento em que tomavam o vinho, uma luz suave, dourada, invadiu o lugar. A glória do Senhor se manifestou de forma visível. O pastor Apolo não se continha. Ajoelhado, dava brados de louvor e adoração a Deus. Sua oração era como incenso que exalava plena comunhão espiritual. Todos os componentes do ministério de louvor, os que ministravam e cantavam, até os instrumentistas, se ajoelharam atônitos. Ninguém ousava pegar no microfone. A Igreja ardia em uma fé espontânea. Os dons espirituais jorravam. Abundante era o banquete espiritual à mesa do grande Deus.

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Longe dali, no mundo etéreo, Hermeneuo flutuava. Sua consciência simplesmente deslizava no ar, não estava mais limitada ao invólucro de sua carne. Já não havia dor, nem pranto. Ele nem precisava mais sorver oxigênio para manter seu corpo vivo. Hermeneuo estacou. Tinha agora diante de si portões prateados e ruas douradas logo após eles, num resplandecente mosaico de cores vívidas que realçavam sobrenaturalmente a beleza daquele novo lugar. Uma felicidade, que jamais sentira em vida, se apoderou de Hermeneuo.

Foi quando os portões se abriram, refletindo partículas de luz prateada. Hermeneuo viu um homem brilhando como a luz do sol ao meio-dia. Suas mãos delicadas, traspassadas há tanto tempo, se estenderam num gesto convidativo:

– Vinde, bendito de meu Pai!

Hermeneuo aceitou o convite. Em breve, participaria da Ceia mais importante de sua existência.

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DEIVINSON BIGNON é Pastor Congregacional, mestre em Ciências da Religião, teólogo, professor de Hebraico Bíblico e Exegese Bíblica, escritor, integrou a equipe de revisores da Bíblia de Estudo Mathew Henry e é publisher da Editora Contextualizar, com vasta experiência em publicação para autores evangélicos iniciantes.

TODOS OS SEGREDOS DO SALMO 23 REVELADOS DIRETO DA BÍBLIA HEBRAICA

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